quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cinema: Inimigos Públicos

Após o Crash de 1929, que gerou a Grande Depressão nos Estados Unidos, a criminalidade tomou conta da cidade de Chicago. Havia um desolamento enorme, uma desesperança entre a população americana. O ano era o de 1933. John Dilinger (Johnny Depp) era um bandido temido, que comandava uma quadrilha especializada em roubo a bancos. O crime organizado dava seus primeiros suspiros e muitos bandidos como Dilinger aproveitaram a onda de ódio que pairava contra os bancos, uma vez que o sistema financeiro foi apontado como um dos responsáveis pelo Crash, e roubavam, tomando cuidado com a opinião pública, para que esta se não os apoiasse, ao menos não os reprovasse. É nesse contexto que se desenrola "Inimigos Públicos".

Dilinger, ou John, como gostava de ser chamado, executou diversos roubos com sucesso. Transformou-se em figura icônica, uma espécie de anti-herói, que desafiava a Lei sem medo de ser detido. Quando um dos grandes da polícia de Chicago, J. Edgar Hoover (Billy Crudup) recrutou Melvin Purvis (Cristian Bale), que havia ganhado notoriedade por ter matado outro bandido de renome, Pretty Boy Floyd — em cena de perseguição reconstituída em "Inimigos Públicos" — a imprensa e opinião pública acreditavam que Dilinger e sua turma estavam por ser dizimado em pouco tempo. Ledo engano.

Hoover e Purvis foram alguns dos personagens que preconizaram o surgimento do Federal Bureau of Investigation, o famoso FBI, existente até hoje e que surgiu como forma de resposta ao crime organizado que nasceu na década de 1930. Purvis, gozando da bajulação da mídia, promove uma caçada intensa ao bando de John, estudando meticulosamente como caçá-lo. A trama transforma-se num verdadeiro jogo de xadrez, em que cada peça é estudada a exaustão antes de um movimento.

Enquanto Purvis se desdobrava para prender o bandidão, este fazia planos de imigrar para outro país, junto com sua amada. Cuba, Rio de Janeiro... Porém, vida de bandido não é fácil. A fuga torna-se mais difícil graças à atuação da polícia. Trava-se então uma batalha sangrenta entre os comandados de John e de Purvis, até o desfecho conhecido, já que esta é uma história real.

"Inimigos Públicos" possui uma enormidade de destaques. O roteiro, executado por Ann Biderman, Michael Mann e Ronan Bennett, é preciso na construção da ação do filme e na reconstrução do “cenário da época”. E o que dizer do primoroso trabalho de cenografia e fotografia? Os elementos técnicos citados dão ao filme um caráter artístico impressionante. O figurino da época é detalhado, muito bem feito, e a fotografia consegue potencializar o trabalho por ele [figurino] produzido.

O diretor Michael Mann (Ali e Miami Vice) e seu diretor de fotografia Dante Spinotti conseguem utilizar a fotografia como elemento participativo no longa. Em certas cenas, a iluminação contrasta com pequenos detalhes visuais, ressaltando expressões que passariam despercebidas em outras condições. Tudo isso ganha maior destaque quando se contesta que a filmagem foi realizada em câmeras digitais, HD, que dão maior realismo e definição à imagem. Somados a isso (sim, existem mais recursos utilizados de forma brilhante) há a câmera inquieta e introspectiva de Mann, que trabalha colada aos rostos de John Dilinger e Purvis, captando suas emoções (quando elas existem, pois os personagens são frios e meticulosos) de forma brilhante, brilhante.

Johnny Depp dispensa comentários. Sua versatilidade é inquestionável. O cara é bom. Ele confere um tom de sarcasmo disfarçado ao personagem que nem todo ator, por mais que fosse bom, conseguiria. É um bandido, sim, que os telespectadores torcem por sua “vitória”, que compartilham de sua angústia, mesmo ele roubando e matando. Bale interpreta o oposto, o lado da lei, Purvis, que não empolgava a população de Chicago. Na verdade, esse aspecto trabalhado em "Inimigos Públicos", esse comportamento social, é muito interessante. As pessoas saem da sala de cinema torcendo pelo fora da lei, afinal ele faz coisa que desafiam as regras, coisas que grande parte das pessoas gostaria e fazer e não tem coragem...

É necessário pontuar o uso do silêncio em algumas cenas, substituindo efeitos sonoros ou trilha. É bacana notar como o silêncio, em meio a um tiroteio, por exemplo, é angustiante. Como ponto fraco, fica o casting de atores secundários, que são de difícil identificação (você não sabe exatamente quem é quem).

Para finalizar, a divulgação deste período histórico é positiva, pois a recessão daquela época fez surgir tantos vilões e anti-heróis. E a crise de hoje, fará algo parecido?

Veja o trailer de "Inimigos Públicos":

Por Leonardo Cassio

Um comentário:

Márcia Vitor disse...

Ai eu quero muito assistir o filme, se for igual a crítica, sei que não perderei nada!