quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ACDC em São Paulo

O mais gostoso de esperar fervorosamente por algo é ser surpreendido quando o fato se consuma. O problema é quando a encomenda chega e dentro do pacote só veio decepção.

Me lembro na Copa do Mundo de 1994, quando com 9 anos eu já gritava “é tetra” desde a primeira fase da competição. Experiente, minha mãe me alertava que já havia visto diversos mundiais de futebol e que eu deveria estar preparado para o pior.

Felizmente fomos agraciados com a taça, e de lá pra cá ainda não aprendi a esperar o pior e me decepcionei várias vezes.

Desde que soube que teria a chance única de ver o AC/DC tocando ao vivo em São Paulo entrei em transe. Guardei grana para os ingressos, fiquei ouvindo o set list da turnê e até comprei um DVD classe A dos caras.

Esses preparativos foram alimentando a expectativa que surgiu em uma noite de 2001 quando com a minha primeira banda assistimos Detroit Rock City, tomamos um porre de Bombeirinho (pinga com groselha, limão a gosto) e saímos no braço no meio de uma grande avenida da Zona Norte de São Paulo. Aí você se pergunta: mas este filme não conta a história de uma banda de moleques que querem ver o show do Kiss???

Sim, mas na trilha sonora repleta de clássicos do bom e velho Rock n’ Roll, um som foi o que mais me tirou do sério: Highway to Hell.

Não me entendam mal, adoro o Kiss e inclusive estive no show este ano em São Paulo. Me arrepio ao recordar das imagens e dos sons que presenciei nesta ocasião, mas não tem como negar que o som pesado e os vocais inconfundíveis do AC/DC são de tirar qualquer adolescente aspirante a músico do sério.

Eis que se abrem as vendas dos ingressos e, ingenuamente, fui no meu horário de almoço adquiri-los. Ao invés de encontrar uma balconista sorridente me congratulando pela aquisição dos ingressos, encontrei uma fila de 7 horas. Mais expectativa.

Os ingressos esgotaram muito rapidamente, e eu tinha o meu bem guardado.

Ansiedade absurda.

O que eu ainda não sabia é que não havia expectativa que se equiparasse com a insanidade desses tiozinhos locáços.

Lembro que eu me impressionava quando, na década de 90, a já idosa Hebe Camargo entornava uma tulipa cheia de cerveja do patrocinador num gole só sem arrotar e que o Zé Bonitinho ainda pegava uma penca de gostosa na TV, mas o AC/DC nada de braçada.

O show começou com uma animação onde uma locomotiva com os integrantes da banda perde o controle e tem os freios acionados. A trilha indica que o freio não será capaz de deter a máquina em alta velocidade e, com uma explosão, uma locomotiva de 6 toneladas e com chifres vermelhos como a maioria dos expectadores do estádio do Morumbi invade o palco soltando fumaça ao som de Rock´n´roll Train.

Depois de alguns clássicos, outra surpresa. No intervalo de uma música o vocalista Brian Johnson, então no meio de uma passarela que ligava o palco ao meio da multidão, corre tresloucadamente para o palco e se arremessa na corda de um sino gigante que desceu do teto fazendo-o badalar em um som arrebatador acompanhado pela introdução de Hell’s Bells. Imagine a catarse geral ao ver o cara se balançando na corda enquanto outro som destruidor começava.


Dominado pelo deus (ou demônio) da guitarra, Angus Young se livra do uniforme de colégio e faz um striptease até mostrar o logo da banda em sua cueca. Passadas as cenas impressionantes de um maluco que parecia tão feliz quanto eu, um solo de aproximadamente 15 minutos se inicia e é seguido por malabarismos, interação com o público e até uma plataforma que o içou do chão.

Pra levantar de vez os 70.000 fanáticos presentes, T.N.T. e Highway to Hell.

Enquanto se desenrolavam outras obras primas dos caras os efeitos especiais não pararam.

Uma boneca inflável surgiu sentada na locomotiva batendo o pé no ritmo da música e canhões acompanharam com explosões a faixa For Those About to Rock (We Salute You).

Aposto uma das minhas pernas que o Roberto Carlos nunca fez um show desses. Aposto as duas que a maioria das bandas sensação da molecada de hoje nunca farão. Inclusive aquelas que te fazem usar colete noturno da CET e jura que vai te fazer pular que nem pipoca.

Estava esperando um grande show, mas acabei sendo surpreendido por lendas vivas, que não só caminham pela Terra, mas apavoram qualquer um por onde passam.

No Brasil, talvez nunca mais.

Set List
1. Rock N' Roll Train
2. Hell Ain't a Bad Place to Be
3. Back in Black
4. Big Jack
5. Dirty Deeds Done Dirt Cheap
6. Shot Down in Flames
7. Thunderstruck
8. Black Ice
9. The Jack
10. Hells Bells
11. Shoot to Thrill
12. War Machine
13. Dog Eat Dog
14. You Shook Me All Night Long
15. T.N.T.
16. Whole Lotta Rosie
17. Let There Be Rock

Por Marcio Andrade, publicitário e leitor do Cult Cultura

Um comentário:

Donnie disse...

E eu estava lá e estava em transe acdcídico... nunca vi um show como esse e tenho medo de nunca mais ver. Aliás, esse show muda totalmente o conceito. Tô besta até agora.
E adorei a resenha, Marcitos.
Bjones procêis!