quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Cloverfield

Cloverfield pode ser considerado um sucesso comercial e de crítica. É um filme experimental, que possui uma linguagem peculiar e sabiamente conduzida. J.J. Abrams já se mostrou um produtor de talento com o seriado Lost, um dos maiores sucessos da TV americana e em Cloverfield ele reafirma seu potencial criativo e mostra que tem muito talento para gastar ainda. Além dele, há também a mão do diretor Matt Reeves, que conseguiu criar uma atmosfera de caos e destruição bem real, prendendo o expectador como poucos filmes conseguiram.

O filme se passa — como não poderia deixar de ser — na cidade mais atacada da história do cinema, Nova Iorque. Um grupo de amigos se reúne para a despedida de Rob (Michael Stahl-David), jovem empresário que conseguiu uma vaga de trabalho no Japão. Para registrar o encontro, foi dada a Hud (T.J. Miller) uma câmera, que por acaso é de seu melhor amigo e homenageado da festa, Rob. Na fita havia uma gravação feita por ele, Rob, de um fim de semana com sua amiga Beth (Odette Yustman), por quem ele nutria uma atração antiga.

Durante a festa, ocorrem certos tremores de terra e explosões. Bolas de fogo voam e até a cabeça da Estátua da Liberdade (como se observa no cartaz publicitário) rola pelas ruas perto do apartamento onde acontece a comemoração de despedida. Sem saber exatamente o que está acontecendo, milhares de pessoas, incluindo o grupo de amigos, começam a procurar o motivo do caos instaurado e como escapar dele.

O ponto de vista adotado é justamente o de Rob e seus amigos, através da câmera que está nas mãos de Hud. A primeira parte do filme é a apresentação dos personagens e a criação da tensão que será mantida por todo o longa. Feito isso, a ação toma conta da narrativa, com os atordoados nova-iorquinos correndo para lá e para cá, tentando escapar sabe se lá de que.

Durante o corre-corre, a defesa civil dá uma ordem de evacuação imediata, porém o grupo resolve acompanhar Rob, que vai resgatar Beth em seu apartamento. Durante o trajeto, o grupo fica próximo ao monstrego e acompanha o bombardeio do exército para cima dele.

Obviamente, o que mais chama a atenção no filme é ponto de vista utilizado. A história se concentra a partir dos fatos ocorridos com o grupo de amigos, tendo sido toda a trajetória destes gravada. Além de ser curiosa, essa abordagem deu o que falar, pois por ser uma câmera com “ares amadores”, com imagens borradas e tremidas, devido a correria, as cenas do filme causam certa vertigem (em alguns casos náuseas mais fortes...) nos espectadores.

Além do mais, o filme foge de outros clichês. O primeiro dele é que não há um super-herói que salva a cidade das pessoas. Segundo, o monstro não cai morto no meio da cidade, com algumas pessoas ao redor dele com olhares de consternação. Terceiro, o monstro, no fim, é o elemento chave do filme, mas não o principal, uma vez que a aparência física do bicho mal é revelada e que o que conta mesmo é a impotência das pessoas, representadas por Rob e seus amigos, diante de uma ameaça inesperada — assim como ocorreu no 11 de setembro, por exemplo. Outros fatores importantes foram a escolha de um elenco novo, que fortalece a idéia de amadorismo e o tempo de duração do longa, igual ao de um fita de vídeo “caseira”.

E claro que nem tudo sai imune a comentários. Assim como as imagens da câmera amadora deram o que falar, o fato da câmera, no filme, não ter quebrado após várias quedas e a fita e a bateria não ter acabado, renderam muito bafafá, do tipo: “preciso descobrir onde eles compraram essa super câmera!” ou “nem a câmera do Peter Parker era tão boa”. Enfim, é um exagero, mas que em nada atrapalha o filme e, analisando bem, esse exagero cai é bem a ele. Houve, também, certo exagero quanto a condição física de Beth após o acidente que sofreu. Como a ferida causada era grave, sua fuga junto ao grupo pareceu exagerada. Porém, pessoas envolvidas em situações extremas conseguem arrumar mais força do que eventualmente possuem. Mas isso é só uma observação, nada muito relevante.

Há ganchos claros no filme que indicam uma segunda produção. E o site Omelete já adiantou isso, com uma nota que continha o seguinte comentário do produtor J.J. Abrams: “Neste momento o roteirista Drew Goddard e o diretor Matt Reeves estão pensando em algo, então esperamos que saia mais um filme daí”.

Olhando para o histórico do diretor e do produtor de Cloverfield, há diversas razões para apostar que a continuação do filme seja muito boa. E para quem é cinéfilo, há muitas outras razões para aguardar a segunda parte do filme, pois a campanha de marketing viral feita para Cloverfield, utilizando diversos sites, entre eles o Youtube, foi de extrema inteligência e essencial para o êxito do filme.

Vamos aguardar, então, que a continuação seja algo interessante e inteligente, ao contrário de seu título nacional “Cloverfield – O Monstro”, afinal ninguém deve ter ido ao cinema pensando que Cloverfield fosse um cachorro, um planeta ou um super-herói novo da Marvel.

Por Leonardo Cassio

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