quinta-feira, 22 de julho de 2010

Um Homem Sério

É mais um filme estranho dos esquisitos irmãos Coen (Ethan e Joel), que já desafiaram o público a refletir em filmes como Queime Depois de Ler e Onde os Fracos Não Têm Vez. Em Um Homem Sério (2009) a dupla retoma questões importantes como a família, ética e honestidade, trazendo elementos de suas histórias de vida e o momento de crise social que os Estados Unidos estão passando.

Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg) é um professor judeu que vê sua vida desmoronar de uma vez só: sua esposa o troca pelo amigo, seus filhos não o respeitam, sua profissião é afetada por uma tentativa de suborno e por aí vai.

Com tanta pressão, Gopnik fica acuado e tenta refletir sobre sua existência até aquele momento de crise (no qual podemos fazer uma analogia com o próprio país onde se passa o enredo, os EUA, que precisa enfrentar sua própria história para entender o porquê da crise que está passando) buscando uma solução que o tranquilize. Apesar de judeu, o professor é um cientista, um matemático, e como tal tenta equalizar da forma mais racional possível seus problemas.

Acontece que a vida não é uma equação; é algo caótico, assimétrico. E toda essa confusão está muito bem roteirizada, causando indagações profundas, para não dizer “um nó na cuca” do telespectador. “Aceite o mistério” diz uma das personagens ao herói (ou anti herói) do filme. O que isso significa? Que a vida não tem respostas prontas? Que o caos é à base da vida, certas vezes? Ou apenas algo do tipo: “tenha fé, meu amigo”?

Apesar de não ser um filme declaradamente autobiográfico, ele contém partes da vida dos criadores. Sendo assim, não se sabe ao certo se eles estão tirando um sarro com seu próprio passado (o que causou uma reflexão, para uma possível crise...) ou se estão enaltecendo sua cultura e tradições de uma forma bem humorada (e negra).

O fato é que entre as metáforas e frases de efeito, Um Homem Sério retrata a crise de valores individuais dos seres em suas sociedades (aqui, no caso, de um judeu – povo estrangeiro – no EUA) e a inevitável reflexão sobre o sentido de tudo.

As obras dos Coen precisam ser vistas mais de uma vez. São densas demais. Tente gente que odeia e gente que ama. E gente que simplesmente faz como o personagem de Um Homem Sério: pensa muito para tirar uma conclusão.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dzi Croquettes

Tenho percebido que está havendo um movimento de resgate da cultura brasileira.

Semana passada assisti a 2 filmes cujo foco era a arte/ entretenimento nos anos 60/ 70: “Uma Noite em 67”, sobre o Festival de MPB e “Dzi Croquettes”, documentário sobre o grupo (de teatro? Música? Dança?) homônimo.

Apesar da imensa importância do Dzi Croquettes para a formação da cultura de nosso país, devo confessar que não tinha conhecimento sobre tal grupo, o que me faz refletir sobre a quantidade de produção cultural já feita no Brasil e à qual poucos – mas poucos meeesmo – têm acesso.

O Dzi Croquettes foi um grupo que surgiu em 1972. Eram 13 homens performáticos que se apresentavam em teatros, misturando música, teatro e dança. Tudo com uma qualidade impecável, resultado de 8 horas diárias de ensaio.

Muita cor, uma energia deliciosíssima e criação de tendências vistas e discutidas até hoje, o Dzi Croquettes inspirou grandes nomes da atual classe artística, que dão emocionantes depoimentos no documentário: Ney Matogrosso, Claudia Raia, Nelson Motta, Gilberto Gil, Miguel Falabella, Marilia Pêra, Betty Faria, além de artistas internacionais, como Liza Minnelli.

As origens de expressões e gírias são citadas e explicadas, como é o caso da palavra “Tiete” (explicação hilária!).

Muito mais do que entretenimento, “Dzi Croquettes” nos leva a profundas reflexões sobre temas como preconceito, relacionamentos e modelos de convivência.

"Não somos homens, nem mulheres, somos gente" – Dzi Croquettes




Por Thais Polimeni

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Gomorra

É inclassificável o que se sucede no livro Gomorra. É tão desumano, tão cruel que é inimaginável pensar que estamos lendo sobre fatos reais. Escrito pelo jornalista Roberto Saviano, o best seller é um retrato verídico das experiências e observações de Saviano durante o tempo que esteve infiltrado da máfia napolitana, conhecida como Camorra.

Não há momentos de abrandamento em Gomorra. As histórias são relatadas com tanto requinte de detalhes (e isso inclui as cenas de crueldade) que se torna impossível sair ileso à leitura desta obra documental. Dividido em dois blocos, o livro reconstrói a lógica financeira e expansionista, bem como o sistema organizacional dos clãs das regiões napolitanas e casertanas, desde o Secondigliano até Casal di Principe, além de revelar estranhos rituais comerciais, que mesclam lógicas corporativas com o fatalismo fúnebre dos samurais.

Roberto Saviano constrói um trama repleta de figuras emblemáticas (e reais) de forma singular, sendo que toda àquela loucura brutal realizada pela criminalidade e presenciada por ele o torna o personagem principal, um narrador presente e à beira da morte.

Como foi dito, é impossível não sair transformado após a leitura de Gomorra. É tão absurdo o gigantismo da máfia, sua forma de ação — objetiva, fria, calculista — e seu poderio destrutivo, que fica difícil acreditar que ela será um dia controlada.

Por conta de sua obra genial, Saviano está jurado de morte pela máfia italiana e sobre custódia da polícia norte-americana. E, depois do sucesso arrebatador do livro e das ameaças, veio o filme, vencedor do Grand Prix, em Cannes 2008, para dar mais voz aos que lutam contra o crime organizado.

Portanto, Gomorra é mais do que um registro literário e audiovisual de uma desordem social. É antes a contemplação do horror sobre os olhos de um homem que jamais verá a vida como a via, pois talvez nem acredite mais nela.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Para os Apaixonados por Fotografia

O Sesc Consolação, em São Paulo, divulgou uma programação especial para os amantes da fotografia, que ocorrerá entre os meses de agosto e setembro. As atividades do Clic Clube variam entre debates sobre a fotografia e oficinas de processos criativos. Algumas das atividades são gratuitas e as outras custam R$ 12,50, R$ 25,00 e R$ 50,00. Abaixo, o flyer de divulgação com maiores informações:


terça-feira, 13 de julho de 2010

Uma Noite em 67

Os Festivais de Música Popular Brasileira foram de vital importância para a cultura brasileira. Não só pelo valor artístico que tiveram, não apenas pelos grandes nomes que lá surgiram, mas também pelo simbolismo político, pela efervescência social, como também pelo firmamento da televisão como grande meio de entretenimento.

O mais célebre desses festivais foi o de 1967. Transmitido com exclusividade pela rede Record de televisão, que detinha 90% dos programas musicais, a coqueluche da época (como são as novelas hoje), o III Festival de Música Popular Brasileira, realizado no Teatro Paramount, centro de São Paulo, foi um verdadeiro divisor de águas. Jogou ao estrelato nomes como Gilberto Gil e Caetano Veloso; selou o destino de outros como Sérgio Ricardo; isolou alguns como Chico Buarque, enfim, traçou o rumo da produção musical nacional.

E é sobre a grande final deste concurso que o filme documental Uma Noite em 67 fala. Com direção de Renato Terra e Ricardo Calil, o longa é um misto de entrevista e imagens históricas do místico festival. Os principais protagonistas da festa estão presentes na tela, dando entrevistas inéditas: Edu Lobo, vencedor do festival com a canção Ponteio; Gilberto Gil e os Mutantes que apresentaram Domingo no Parque; Caetano Veloso que tocou Alegria, Alegria; Chico Buarque, que explodiu com Roda Viva e Roberto Carlos, que cantou o samba Maria, Carnaval e Cinzas.

As imagens históricas são da grande final, que teve momentos malucos, como o de Sérgio Ricardo arrebentando o violão ou como o de Caetano Veloso, que dobrou a plateia que o vaiava incessantemente. Além disso, há personagens chaves dos bastidores como o produtor Solano Ribeiro e o jornalista Sérgio Cabral, um dos jurados do concurso. Seus depoimentos dão mais cor e vida ao documentário, que é um trabalho magnífico. Uma Noite em 67 é nostálgico para público que teve a oportunidade de acompanhar o Festival de Record e para os envolvidos (preste atenção nos depoimentos de Gil e Chico Buarque) e muito educativo para pessoas mais jovens, que gostam de MPB e só conhecem o lado ficcional dessa marcante noite, que não merece vaia alguma.

O filme tem estreia marcada para o dia 30/07. Informações complementares e outras curiosidades podem ser desvendadas no hotsite: http://www.umanoiteem67.com.br/

Por Leonardo Cássio