segunda-feira, 19 de julho de 2010

Gomorra

É inclassificável o que se sucede no livro Gomorra. É tão desumano, tão cruel que é inimaginável pensar que estamos lendo sobre fatos reais. Escrito pelo jornalista Roberto Saviano, o best seller é um retrato verídico das experiências e observações de Saviano durante o tempo que esteve infiltrado da máfia napolitana, conhecida como Camorra.

Não há momentos de abrandamento em Gomorra. As histórias são relatadas com tanto requinte de detalhes (e isso inclui as cenas de crueldade) que se torna impossível sair ileso à leitura desta obra documental. Dividido em dois blocos, o livro reconstrói a lógica financeira e expansionista, bem como o sistema organizacional dos clãs das regiões napolitanas e casertanas, desde o Secondigliano até Casal di Principe, além de revelar estranhos rituais comerciais, que mesclam lógicas corporativas com o fatalismo fúnebre dos samurais.

Roberto Saviano constrói um trama repleta de figuras emblemáticas (e reais) de forma singular, sendo que toda àquela loucura brutal realizada pela criminalidade e presenciada por ele o torna o personagem principal, um narrador presente e à beira da morte.

Como foi dito, é impossível não sair transformado após a leitura de Gomorra. É tão absurdo o gigantismo da máfia, sua forma de ação — objetiva, fria, calculista — e seu poderio destrutivo, que fica difícil acreditar que ela será um dia controlada.

Por conta de sua obra genial, Saviano está jurado de morte pela máfia italiana e sobre custódia da polícia norte-americana. E, depois do sucesso arrebatador do livro e das ameaças, veio o filme, vencedor do Grand Prix, em Cannes 2008, para dar mais voz aos que lutam contra o crime organizado.

Portanto, Gomorra é mais do que um registro literário e audiovisual de uma desordem social. É antes a contemplação do horror sobre os olhos de um homem que jamais verá a vida como a via, pois talvez nem acredite mais nela.

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