terça-feira, 20 de outubro de 2009

Apocalipse Now

Alguns leitores deste blog podem não ter assistido ao épico filme Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola (EUA, 1979), no entanto quase nenhum não ouviu pelo menos uma vez na vida o nome do longa-metragem.

O filme é um retrato da Guerra do Vietnã, a partir da ótica do capitão Willard (Martin Sheen) e de sua saga até chegar ao Camboja, onde ele deveria acabar com o ex-coronel norteamericano Walter Kurtz, interpretado de maneira impecável por nada menos que Marlon Brando.

Kurtz, após desertar o exército americano, montou um “vilarejo”, uma espécie de governo paralelo (se é que se pode chamar aquilo de governo...). No lugar havia corpos, ossos e sangue espalhados por todos os lados e centenas de vietcongues que apoiavam o Coronel.

Willard foi recrutado pelo serviço de inteligência estadunidense (entre os militares que o recrutaram está Harrison Ford, ainda sem rugas!), e contou com a ajuda de quatro oficias para atravessar o Vietnã e chegar ao Camboja: Chief Phillips (Albert Hall), Chef (Frederic Forrest), Lance Johnson (Sam Bottoms) e Tyrone 'Clean' Miller (Laurence Fishburne, o Morpheus de Matrix, que nesse filme deveria ter uns 15 anos no máximo).

Durante o percurso, Willard acompanhava com atenção as loucuras que o conflito causava nos combatentes. O General aloprado que surfava em meio a bombas, o assassinato de inocentes sem clemência pelos soldados, a sujeira, o caos, o HORROR... Enfim, todo lado obscuro do ser humano, revelado por uma guerra, que a exemplo de outras, é injustificável.

Bem, o filme é por si só um presente para cinéfilos e não-cinéfilos. Vencedor do Oscar de melhor fotografia e som, além de outras indicações, incluindo de melhor filme e direção, “Apocalipse Now” tem dois outros pontos altos: primeiro, os bastidores do longa foram um capítulo à parte, com direito a um documentário para mostrar a insanidade que foi a filmagem; segundo por tratar de um assunto que incomoda ainda hoje muito americano. Apocalipse Now é de 1979, mais ou menos quatro anos após o cessar fogo definitivo. A opinião pública ainda estava em alvoroço por causa da entrada do país numa guerra que teve como pretexto o alinhamento do Vietnã do Norte com o comunismo e o bombardeio de dois de seus navios que trafegavam pela região, o USS Maddox e USS C.Turney Joy.

Pois bem, de 2000 para cá, quantas vezes isso se repetiu? Afeganistão, Iraque... Quem sabe agora Irã e Coréia do Norte. A política armada estadunidense nunca mudou e dificilmente mudará e Apocalipse Now foi um dos poucos filmes que demonstrou, da maneira mais honesta, os dois lados de um conflito e o HORROR por ele causado. Quem assistiu a Pearl Harbor entende perfeitamente. Os americanos perderam o conflito, este que, aliás, serviu de pretexto para a entrada do país na Segunda Guerra. No entanto, quem saiu moralmente vitorioso foram eles próprios (na figura de Ben Affleck).

Apocalipse Now não foi importante apenas como um filme, como uma expressão artística. Foi mais. Coppola teve a coragem de retratar um assunto que tirou o sono do governo americano, de uma forma que, se não foi o mais honesto possível, chegou perto. Ou será que as pessoas acham que o que aparece nos filmes do Rambo é verdadeiro?

Para finalizar, não poderia deixar de citar a música-tema do filme, The End, do The Doors. Escolha muito feliz. Além de ser um clássico, reflete bem o espírito do filme. Torçamos para que as próximas trilhas sonoras sejam mais felizes. Valeu, Coppola!


Por Leonardo Cassio

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