quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A mídia na sociedade do espetáculo

Em 1967, na sempre efervescente Paris, um cara que se definia como um “doutor em nada” lançou um dos mais polêmicos e aterrorizantes livros do século passado: A Sociedade do Espetáculo (La Société du Spectacle).

Guy Debord, o tal do doutor em nada, foi o responsável por uma densa teoria que critica, entre outras coisas, o “espetáculo” propiciado pelos meios de produção modernos, a economia, a política e principalmente pelos meios de comunicação em massa.

Como agitador social e líder do Movimento Internacional Situacionista — fundado na Itália, e que ganhou maior visibilidade em maio de 1968, ano da grande greve — foi um perspicaz observador da sociedade como um todo, tratando de temas que vão desde as relações de trabalho até a produção cultural da época.

Foi um grande contestador, entusiasta revolucionário, que com sagacidade produziu uma obra devastadora. Sociedade do Espetáculo é um livro marco. Quem resolve encará-lo necessita de bastante paciência, uma vez que a tese é de difícil digestão e por que é, de fato, um assunto incômodo.

Debord traça com doses surreais o mundo em que vivemos (a afirmação é válida, apesar da “idade” do livro, já que a sociedade de consumo se intensificou daquele tempo para cá) e toda a farsa, que segundo ele, aliena, manipula e desumaniza os seres.

A imposição do consumo, razão de viver do capitalismo sobrepõe-se as relações humanas, ao pensar. Neste cenário, o que mais importa é ter, e não ser, tornando os objetos de consumo em seres que merecem contemplação. Assim, a publicidade, a comunicação, as ciências econômicas e etc, trabalham em prol de um mundo permeado pelas imagens, um mundo ilusório, que disfarça as grandes mazelas, ou “aquilo que somos”.

Esse mundo “fachada” em que vivemos constrói-se com a exploração dos indivíduos alienados, com a massa incapaz, devido à supressão do dia-a-dia, de questionar o que ocorre, tornando o atordoante quadro em algo natural.

O tempo, o conhecimento, a inteligência, o tempo livre são os grandes inimigos da Sociedade do Espetáculo. Para ela o importante é o comprar, o consumir, nunca o divertir, estudar, refletir. Quem ganha com isso? Como sempre um pequeno grupo que detêm o poder, as informações, o capital. E o pior de tudo é que o autor não é nada otimista com relação ao futuro...

Guy Debord morreu em 1994 e sua morte foi pouco noticiada pela mídia de quem ele tanto falou. Em uma das teses Debord afirma que no Espetáculo aquilo que não foi noticiado não existe. Ainda bem que seu livro ficou, senão ele seria mais dos tantos que inexistem nesse mundo.

Por Leonardo Cassio

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